A agricultura não é a vilã

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Graneleiro de soja em Paranaguá.

 

A desinformação é uma ferramenta útil para algumas causas, entre elas culpar o agronegócio pela crise hídrica que a região sudeste enfrenta. De maneira muito conveniente, diversas ONGs e formadores de opinião divulgaram ostensivamente informações que podem ser resumidas pela figura abaixo, a qual tenta passar um quadro que não se encaixa num eixo de causa-consequência da crise hídrica.

Aviso aos navegantes: informações em contextos errados geram desinformação.
Aviso aos navegantes: informações em contextos errados geram desinformação.

A figura é clara: O Brasil exporta o equivalente a trilhões de litros de água em commodities agrícolas todos os anos. A mensagem subliminar que atrai as Polianas é a de que “o malvado agronegócio rouba nossa água, enquanto uma pequena fração seria suficiente abastecer os brasileiros”. Evidentemente podemos construir um quadro real que desmente este discurso com as seguintes afirmações:

  • O Brasil tem uma área cultivada de aproximadamente 55 milhões de hectares. Cerca de 10% é irrigada;
  • Como consequência, 90% da área de lavoura usam exclusivamente água da chuva para seu crescimento;

Obviamente toda essa água retornará para a atmosfera novamente ou seguirá seu caminho pelo solo até que saia por uma nascente e alimente rios e lagos (claro que a dinâmica é mais complexa e envolve fatores que para nossa análise são irrelevantes), sendo que apenas uma pequeníssima fração venha a fazer parte da matéria sendo exportada.

E o toque final: O fator distribuição geográfica. No mundo todo, raramente lugares abundantes em água coincidem com os maiores centros urbanos. Um exemplo é a cidade de Nova Iorque que, apesar de estar na foz do caudaloso Rio Hudson, transporta água por uma centena de Aquilômetros desde o interior do estado para atender sua população. A cidade de São Paulo está no inicio de um dos braços a montante de uma complexa bacia hidrográfica que irá desaguar no Mar do Prata. Em entrevista a uma revista de grande circulação em 2014, o Professor da USP José Carlos Mierzwa afirmou que, no caso dos reservatórios que atendem a Grande São Paulo, o volume utilizado pela agricultura corresponde a 3% do total, contra 17% que atende a indústria e 80% para o consumo urbano.  No estado de São Paulo, a agricultura irrigada corresponde a apenas 22% da água consumida. E não que essa água seja retirada de reservatórios, nem mesmo das mesmas bacias.

Conforme descemos o rio, as grandes concentrações urbanas diminuem e a atividade agrícola aumenta, portanto o uso por um setor não concorre com o de outro. No caso da agricultura, se a água não fosse utilizada para produzir alimentos e importantes divisas financeiras que todo ano salva a nossa balança comercial, ela simplesmente seguiria seu caminho até o mar. Espero que pelo mar continue vindo dólares e sepultando desinformações oportunistas.

1 COMENTÁRIO

  1. Ok. Os dados sao relevantes mas vc tb desconsiderou uma serie de variaveis. Tb acho que o agronegocio nao é vilao. Mas com certeza pode se modernizar diante do problema. Alias as tecnicas agricolas sao muito criativas. O fato de maior impacto sao grandes areas desmatadas e substituidas por soja, cana etc… A agua percola mas tb evapora e nao da mesma maneira de um ambiente natural. Precisaria de uma analise mais profunda.

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