Os benefícios das geotecnologias no setor sucroalcooleiro

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Pode até parecer até um pouco estranho falar sobre isso no ano de 2014, mas a realidade é que o setor sucroalcooleiro não dá o valor que as geotecnologias merecem.

Digo isso por experiência própria. Ao longo de alguns anos observando o que o setor tem feito, vejo que as tecnologias de planejamento e monitoramento de canaviais não avançam e acabam sempre sendo recicladas algumas técnicas arcaicas. Dessa maneira, os resultados são ruins e a tecnologia é colocada em descrédito.

Nas universidades e centros de pesquisa mundo afora, todos os dias, surgem novos métodos de uso de imagens de satélite e/ou análises espaciais para cana-de-açúcar. Métodos muito bons mas que não emplacam no setor. Alguns motivos para isso acontecer são apontados: alunos de pós graduação terminam os projetos e deixam de trabalhar na área; métodos muito complicados são aplicados; a realidade das usinas é diferente da escala de laboratório; etc.

Dos motivos listados acima creio que certa parcela da culpa realmente pode ser desses fatores mas o motivo mais forte na minha opinião é que cada vez mais há uma cobrança por resultados muito rápidos e as geotecnologias mostram grandes resultados em um horizonte de tempo maior quando um grande volume de dados espaciais é colocado a disposição dos profissionais das usinas.

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O que vemos hoje nas usinas do uso de geotecnologias é a adoção do GPS em diversos momentos e o uso de caderno de mapas. O caderno de mapas é uma solução bem antiga que vem se reinventando mas mantém a falta de dinamismo. Já os usos do GPS é o que parece ser mais próspero nesse momento com a adoção de algumas práticas de agricultura de precisão.

Neste ponto que encontro o grande problema do setor nesse momento: existe um grande esforço para adotar-se agricultura de precisão mas ainda não há um controle de todo o canavial. Usando-se um exemplo do cotidiano para ilustrar isso seria: lustrar o capô de um carro com cera importada mas o resto do carro está cheio de lama. O carro nunca ficará limpo assim como o canavial nunca estará com seu máximo aproveitamento.

A saída para esse problema é usar sensoriamento remoto para controlar o campo em tempo real e dar aos gestores agrícolas suporte para tomarem decisões mais precisas. Sensoriamento pode ser feito por inúmeros sensores mas para esse fim de monitorar todo o canavial todos os dias as imagens de satélite são as que apresentam melhor capacidade. Satélites são capazes de imagear todos os dias todas as áreas de uma usina sem a necessidade de operadores como é necessário nos UAV’s ou nos sensores de campo.

Claro que as imagens de satélite possuem limitações como por exemplo incapacidade de imagear com nuvens e menor resolução espacial. Mas quando falamos de milhares de hectares e uma planta (cana) que fica o ano todo em campo, apenas é necessário que existam metodologias (e elas existem) de contornar esses problemas para oferecer um monitoramento inteligente e preciso.

Alguns produtos já foram colocados no mercado como o CTC Sat do Centro de Tecnologia Canavieira mas ele apenas fazia medidas no início da safra, qualquer desvio que ocorresse durante o resto do ano não era detectado e por usar imagens de satélite que passavam pelo mesmo local apenas de 16 em 16 dias, as nuvens do período de chuvas do Centro-Sul eram muito problemáticas para o sistema. Apesar de tudo isso o CTC Sat é o monitoramento de maior sucesso até os dias atuais. Para monitoramento regional, o CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol) acabou de lançar um boletim de monitoramento da cana para o estado de São Paulo dividindo a análise nas 12 mesorregiões canavieiras do estado.

Eu acredito que o monitoramento de um canavial deve ser algo dinâmico, de baixo custo operacional e que disponibilize dados quantitativos para permitir tomadas de decisões objetivas pautadas em números.

Se for feito desta forma, todos os setores de uma usina podem utilizar esse monitoramento como uma ferramenta de tomada de decisões, desde o plantio até a venda do açúcar e do etanol.


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Combinando as imagens de satélite com dados meteorológicos e dados históricos da usina dentro de algorítimos evolutivos e bem calibrados é possível prever a safra e apontar problemas de pragas, secas e até mesmo falhas de plantio. O importante é que ao longo do tempo sejam inseridos na base mais dados, para transformar as soluções estudadas na academia, em soluções locais para cada usina.

Se uma usina aderir a um monitoramento desse tipo, ela vai gozar de três grandes benefícios:

  • Economizar com os deslocamentos das equipes de campo – levando-as apenas para os locais que realmente têm necessidade;

  • Antecipar medidas paliativas – como por exemplo exterminar pragas ou replantar em falhas;

  • Ser capaz de saber a produção com meses de antecedência – melhorando todo o planejamento da cadeia.

 O melhor de tudo é que não existem malefícios no uso das geotecnologias, uma vez que apenas auxiliam e melhoram os processos existentes hoje em dia nas usinas. Além disso, como uma ferramenta robusta serve de base para que seja feito o aumento da escala com o uso de UAV’s e técnicas de agricultura de precisão.

Enfim, as geotecnologias são essenciais para que as usinas e o setor sucroalcooleiro como um todo possa ter controle do campo e não apenas fique rezando, esperando que a safra seja boa.

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